quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

"A amazônia é um berço de cultura e de sabedoria" - Naná Vasconelos, Unimúsica 2010

Desmarco minha última aula do dia para não chegar atrasado no show do cara que se apresenta em cena com meia dúzia de instrumentos de percussão, mais seu corpo e um penico. No palco, os intrumentos são cuidadosamente arranjados em cima de uma espécie de canga de tecido, com uma grande estrela de oito pontas amarela.

Apenas um foco de luz sobre o centro da estrela, iluminando os instrumentos que estão mais ao centro. As luzes se apagam. Ouve-se vindo do fundo do palco um negro baixinho, com ar cansado, portando o seu berimbau. Seu andar é decidido e vagaroso, já  concentrado,  está em sua dimensão própria, seu infinito particular...

Logo ele chega ao centro da estrela, ajeita o microfone e desfere golpes decididos no arame do instrumento. Olhos baixos, como que em transe fitam o chão. Suas mãos se movendo mais parecem asas de beija-flor. O berimbau vai e volta junto ao peito do negro, daqui-pra-lá e de-lá-pra-cá.

Daqui-pra-lá, de lá-pra-cá...

A platéia boquiaberta acompanha a evoluçào do corpo, da energia e dos sons. Ele não é um virtuose, é um virtuoso, um virtuoso de espírito, mostrando pra nós "um Brasil que o Brasil não conhece".

Dez minutos de música ao berimbau. Ele não se cansa, a platéia não se cansa. Ele não se cansa, a platéia não se mexe. Ele dança faceiro. A platéia não se mexe...

Cerca de vinte e quatro horas antes em seu workshop, Naná dizia que levava para o palco somente o necessário para dar o seu recado. "O artista precisa dizer, nunca explicar".

Vinte e quatro horas depois a platéia paralisada o vê abandonar o caxixi, a vareta, e, após uma exploração completa do mais brasileiro dos instrumentos, vê findar o primeiro número de Naná Vasconcelos, que acabara de abandonar delicadamente o instrumento no chão para que pudéssemos aplaudir, ainda sem fôlego, aquele primeiro momento visceral, orgânico, artístico. O primeiro de muitos que se sucederam, um após o outro, durante o seu show.

Durante os aplausos o homem recupera o seu instrumento e lhe dá um abraço carinhoso, como quem abraça a mulher amada, e o repousa novamente no tecido onde está estampada a estrela amarela de oito pontas.

E assim foi, por quase duas horas, que Naná desfilou seu misto de doçura, simpatia, leveza, pureza, resignação e generosidade. Experimentou todos os intrumentos dispostos no palco - inclusive o corpo -, contou causos, regeu a platéia, dançou e vivenciou conosco o som da chuva caindo no leito do Amazonas...

Foi mais ou menos assim a experiência sublime, etérea, extra-sensorial de assistir a um gênio vivo da música brasileira, a três metros de distância, no salão de atos da UFRGS em Porto Alegre, encerrando a série Percussionistas do Unimúsica 2010.

Nunca ouviu o Naná?

"Você conhece a Amazônia?"

...

Algumas sonoridades só valem a pena se forem vivenciadas ao invés de ouvidas...

http://www.nanavasconcelos.com.br/

Um comentário:

BrunA disse...

Gostei....gostei ...
Música ...bom papo ...
Vou voltar
bejus.
Visite o meu cantinho tb .
Se estiver afim ..de ouvir loucuras ...KKK .