Desmarco minha última aula do dia para não chegar atrasado no show do cara que se apresenta em cena com meia dúzia de instrumentos de percussão, mais seu corpo e um penico. No palco, os intrumentos são cuidadosamente arranjados em cima de uma espécie de canga de tecido, com uma grande estrela de oito pontas amarela.
Apenas um foco de luz sobre o centro da estrela, iluminando os instrumentos que estão mais ao centro. As luzes se apagam. Ouve-se vindo do fundo do palco um negro baixinho, com ar cansado, portando o seu berimbau. Seu andar é decidido e vagaroso, já concentrado, está em sua dimensão própria, seu infinito particular...
Apenas um foco de luz sobre o centro da estrela, iluminando os instrumentos que estão mais ao centro. As luzes se apagam. Ouve-se vindo do fundo do palco um negro baixinho, com ar cansado, portando o seu berimbau. Seu andar é decidido e vagaroso, já concentrado, está em sua dimensão própria, seu infinito particular...
Logo ele chega ao centro da estrela, ajeita o microfone e desfere golpes decididos no arame do instrumento. Olhos baixos, como que em transe fitam o chão. Suas mãos se movendo mais parecem asas de beija-flor. O berimbau vai e volta junto ao peito do negro, daqui-pra-lá e de-lá-pra-cá.
Daqui-pra-lá, de lá-pra-cá...
A platéia boquiaberta acompanha a evoluçào do corpo, da energia e dos sons. Ele não é um virtuose, é um virtuoso, um virtuoso de espírito, mostrando pra nós "um Brasil que o Brasil não conhece".
Dez minutos de música ao berimbau. Ele não se cansa, a platéia não se cansa. Ele não se cansa, a platéia não se mexe. Ele dança faceiro. A platéia não se mexe...
Cerca de vinte e quatro horas antes em seu workshop, Naná dizia que levava para o palco somente o necessário para dar o seu recado. "O artista precisa dizer, nunca explicar".
Vinte e quatro horas depois a platéia paralisada o vê abandonar o caxixi, a vareta, e, após uma exploração completa do mais brasileiro dos instrumentos, vê findar o primeiro número de Naná Vasconcelos, que acabara de abandonar delicadamente o instrumento no chão para que pudéssemos aplaudir, ainda sem fôlego, aquele primeiro momento visceral, orgânico, artístico. O primeiro de muitos que se sucederam, um após o outro, durante o seu show.
Cerca de vinte e quatro horas antes em seu workshop, Naná dizia que levava para o palco somente o necessário para dar o seu recado. "O artista precisa dizer, nunca explicar".
Vinte e quatro horas depois a platéia paralisada o vê abandonar o caxixi, a vareta, e, após uma exploração completa do mais brasileiro dos instrumentos, vê findar o primeiro número de Naná Vasconcelos, que acabara de abandonar delicadamente o instrumento no chão para que pudéssemos aplaudir, ainda sem fôlego, aquele primeiro momento visceral, orgânico, artístico. O primeiro de muitos que se sucederam, um após o outro, durante o seu show.
Durante os aplausos o homem recupera o seu instrumento e lhe dá um abraço carinhoso, como quem abraça a mulher amada, e o repousa novamente no tecido onde está estampada a estrela amarela de oito pontas.
E assim foi, por quase duas horas, que Naná desfilou seu misto de doçura, simpatia, leveza, pureza, resignação e generosidade. Experimentou todos os intrumentos dispostos no palco - inclusive o corpo -, contou causos, regeu a platéia, dançou e vivenciou conosco o som da chuva caindo no leito do Amazonas...
Foi mais ou menos assim a experiência sublime, etérea, extra-sensorial de assistir a um gênio vivo da música brasileira, a três metros de distância, no salão de atos da UFRGS em Porto Alegre, encerrando a série Percussionistas do Unimúsica 2010.
Nunca ouviu o Naná?
"Você conhece a Amazônia?"
...
Algumas sonoridades só valem a pena se forem vivenciadas ao invés de ouvidas...
E assim foi, por quase duas horas, que Naná desfilou seu misto de doçura, simpatia, leveza, pureza, resignação e generosidade. Experimentou todos os intrumentos dispostos no palco - inclusive o corpo -, contou causos, regeu a platéia, dançou e vivenciou conosco o som da chuva caindo no leito do Amazonas...
Foi mais ou menos assim a experiência sublime, etérea, extra-sensorial de assistir a um gênio vivo da música brasileira, a três metros de distância, no salão de atos da UFRGS em Porto Alegre, encerrando a série Percussionistas do Unimúsica 2010.
Nunca ouviu o Naná?
"Você conhece a Amazônia?"
...
Algumas sonoridades só valem a pena se forem vivenciadas ao invés de ouvidas...
Um comentário:
Gostei....gostei ...
Música ...bom papo ...
Vou voltar
bejus.
Visite o meu cantinho tb .
Se estiver afim ..de ouvir loucuras ...KKK .
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