segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Distâncias






"a menor distância entre a boca e o ouvido é o sussurro..."

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

"A amazônia é um berço de cultura e de sabedoria" - Naná Vasconelos, Unimúsica 2010

Desmarco minha última aula do dia para não chegar atrasado no show do cara que se apresenta em cena com meia dúzia de instrumentos de percussão, mais seu corpo e um penico. No palco, os intrumentos são cuidadosamente arranjados em cima de uma espécie de canga de tecido, com uma grande estrela de oito pontas amarela.

Apenas um foco de luz sobre o centro da estrela, iluminando os instrumentos que estão mais ao centro. As luzes se apagam. Ouve-se vindo do fundo do palco um negro baixinho, com ar cansado, portando o seu berimbau. Seu andar é decidido e vagaroso, já  concentrado,  está em sua dimensão própria, seu infinito particular...

Logo ele chega ao centro da estrela, ajeita o microfone e desfere golpes decididos no arame do instrumento. Olhos baixos, como que em transe fitam o chão. Suas mãos se movendo mais parecem asas de beija-flor. O berimbau vai e volta junto ao peito do negro, daqui-pra-lá e de-lá-pra-cá.

Daqui-pra-lá, de lá-pra-cá...

A platéia boquiaberta acompanha a evoluçào do corpo, da energia e dos sons. Ele não é um virtuose, é um virtuoso, um virtuoso de espírito, mostrando pra nós "um Brasil que o Brasil não conhece".

Dez minutos de música ao berimbau. Ele não se cansa, a platéia não se cansa. Ele não se cansa, a platéia não se mexe. Ele dança faceiro. A platéia não se mexe...

Cerca de vinte e quatro horas antes em seu workshop, Naná dizia que levava para o palco somente o necessário para dar o seu recado. "O artista precisa dizer, nunca explicar".

Vinte e quatro horas depois a platéia paralisada o vê abandonar o caxixi, a vareta, e, após uma exploração completa do mais brasileiro dos instrumentos, vê findar o primeiro número de Naná Vasconcelos, que acabara de abandonar delicadamente o instrumento no chão para que pudéssemos aplaudir, ainda sem fôlego, aquele primeiro momento visceral, orgânico, artístico. O primeiro de muitos que se sucederam, um após o outro, durante o seu show.

Durante os aplausos o homem recupera o seu instrumento e lhe dá um abraço carinhoso, como quem abraça a mulher amada, e o repousa novamente no tecido onde está estampada a estrela amarela de oito pontas.

E assim foi, por quase duas horas, que Naná desfilou seu misto de doçura, simpatia, leveza, pureza, resignação e generosidade. Experimentou todos os intrumentos dispostos no palco - inclusive o corpo -, contou causos, regeu a platéia, dançou e vivenciou conosco o som da chuva caindo no leito do Amazonas...

Foi mais ou menos assim a experiência sublime, etérea, extra-sensorial de assistir a um gênio vivo da música brasileira, a três metros de distância, no salão de atos da UFRGS em Porto Alegre, encerrando a série Percussionistas do Unimúsica 2010.

Nunca ouviu o Naná?

"Você conhece a Amazônia?"

...

Algumas sonoridades só valem a pena se forem vivenciadas ao invés de ouvidas...

http://www.nanavasconcelos.com.br/

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

INTERNACIONAL BODY MUSIC FESTIVAL

Este post de hoje é pra divulgar um festival inédito que será realizado em São Paulo entre os dias 16 e 21 de Novembro agora. É o festival internacional de música corporal, que reunirá representantes de todo mundo da música feita - no e a partir do - corpo.

A frase de apresentação do festival, muito inteligente e de extremo bom gosto por sinal, expica tudo:

"Música que você vê. Dança que você ouve". 

Isso mesmo. Assim é de fato a música corporal, ela trafega na zona de fronteira entre dança e música, propondo uma forma única de expressão.

Bom, quem é leitor de fé do Paisagens já pôde notar que eu sou fã de música corporal. Ja fiz dois posts sobre os Barbatuques, que por sinal são os organizadores do Body Music aqui no Brasil. Hoje atualmente integro o primeiro núcleo de pesquisa e vivência em Música Corporal do Rio Grande do Sul. Estamos começando nossas atividades neste mês e sinto que bons ares estão por vir.

O mais legal do festival é a pluralidade que ele propõe: com artistas da Turquia, América do Sul, EUA, África, enfim, todos os lugares. A idéia é integrar workshops, bate papos, shows, jam sessions... Ufa! Vai ser de tirar o fôlego!!!

O melhor: todo mundo pode se expressar com o corpo! Eu, você, a vó da bengala... Você nunca se pegou batucando na parada de ônibus ou coisa parecida? Claro que sim, isto mesmo. Todos somos seres musicais. Ficou interessado? Dê uma olhada no link abaixo, que mostra um pequeno apanhado das últimas edições do Body Music:



Bom, deixo a dica. Esta vale à pena, ainda mais que várias oficinas serão gratuitas. Ah, já ia me esquecendo, os shows também serão de graça. Isso mesmo, custo zero. Tá esperando o quê?

Segue o link do Festival, com todas as informações:


Bom, fico por aqui. Abraços sincopados a todos!!!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Projeto "Luzindo Gonzagas" - Seleção de Repertório

Nas últimas semanas, durante as aulas de violão uma melodia recorrente tem vindo aos meus ouvidos e, consequentemente aos dedos, que a começam a tocá-la imediatamante: "Assum Preto", do Luiz Gonzaga.

Bah, êta melodia "martelando" toda hora na minha cabeça! Luiz Gonzaga é o cara! Eu adoro Luiz Gonzaga. Acho que quando eu crescer vou me tornar filho do Luiz Gonzaga. Melhor: quando crescer, quero ser o Gonzaguinha. A evolução da espécie!


Hoje, ao voltar da última aula de violão do dia, ligo o rádio do carro e não ouço nada. Aliás, ouço nas notas de uma música qualquer a melodia  - ultrarrecorrente - da canção "Assum Preto". Lembro daquela vontade danada de fazer um projeto de música novo e penso:

 - Por que não? 


Assim estava formado o embrião do meu novo projeto de ano novo: "Luzindo Gonzagas". Pronto! Já tenho tudo o que preciso. A idéia e a vontade. Mas e a banda? E a produção? E o repertório?

Detalhes mínimos! O principal eu já tenho. O projeto, a vontade e o nome: "Luzindo Gonzagas". Claro! Tocar uma seleção de músicas de Gonzaga pai e Gonzaga filho... Isso mesmo!!!

Falando em seleção de músicas, bem que vocês, leitores do "Paisagens", poderiam me ajudar nisso não? Aproveitando os milhares de acessos diários deste humilde blog, achei uma boa idéia compartilhar com vocês a questão do repertório!

Que tal vocês me enviarem uma listagem das suas cinco músicas preferidas do Gonzaga pai e do Gonzaga filho, pra me ajudar nesse trampo? Só dez musiquinhas. Aquelas que tocam vocês de verdade. Que tal?

Eu adoraria ouvir a sugestão de todos!


Pra inspirar, coloco o endereço dos sites dos Gonzagas aqui embaixo pra todos poderem refrescar a memória!


http://www.luizluagonzaga.mus.br/index.php?option=com_frontpage&Itemid=1


http://www.gonzaguinha.com.br/


Bom, está lançada a campanha pró repertório do projeto "Luzindo Gonzagas". Aguardem cenas dos próximos capítulos! Encerro este post com uma frase do Juninho, muito interessante. Retirei do seu site. O que me dizem?


“Meu movimento é de lagarta, sigo em frente e volto”. (Gonzaguinha)

domingo, 19 de setembro de 2010

A beleza salvará o mundo - Barbatucando em Porto Alegre

Nesta semana tive a oportunidade de colher os frutos de uma mentalização positiva que começou há algum tempo. Estive fazendo uma oficina de percussão corporal com o Fernando Barba, do Barbatuques, aqui em Porto Alegre. O Barba deu a oficina por aqui aproveitando sua passagem pelo estado para realizar um show em Caxias no dia 16. 

A história é longa, mas tentarei abreviá-la o maximo possível. 

Segunda à noite antes de dormir descobri a oficina dos Barbatuques que rolaria na terça-feira seguinte. Menos de 24 horas depois me encontro dando uma caroninha pro Barba do hotel até o Colégio Parobé, local onde rolaram os dois dias de oficina. A carona foi resultado de uma maluca coincidência destas que rolam com a gente volta e meia, nos levando a acreditar que o acaso na verdade é fruto da nossa força de vontade...

Bom, depois de quase passarem por cima do meu fusca umas três vezes no trajeto do hotel até a escola, chegamos inteiros. Tentei dirigir da forma mais tranquila possível, mas confesso que minha atenção estava compromeitda devido a um misto de euforia e de felicidade por estar ao lado de uma pessoa pela qual eu tenho admiração, que acabou aumentando após o curto tempo de troca de experiências.

Ao descermos do fusca o Barba me larga uma afirmação que me pegou desprevenid. Falou algo do tipo:

- Você viu Vênus ali em cima?

-Vênus? 

- Vênus, aquele ponto brilhante no céu. Uma estrela maior e mais reluzente do que as outras. Na verdade um planeta, o mais próximo da terra, surge sempre no amanhecer e ao anoitecer!

Eu, que estava completamente concentrado na sinaleira que teimava em não fechar, fiquei surpreso. A lição número um da oficina estava dada: às vezes dedicamos a nossa atenção às coisas menos importantes...

Bom, chegamos na escola. Descrever as experiências vivenciadas nestes dois dias de convivência com o Barba e com novos e instantâneos amigos como a Elinka Matusiak, que produziu o evento, seria muito difícil. Acredito que esta oficina me surpreendeu pelo fato de que, além de ser uma lição de humildade, de senso de grupo e de partilhar energias positivas, me lembrou do real motivo pelo qual quis me tornar um fazedor de Arte. 

Fazemos Arte porque amamos a vida, porque Arte é a vida fluindo, porque podemos nos reinventar a cada segundo. Podemos Viajar por todos os lugares, mergulhar nas mais diversas sensações, sofrer, rir, chorar, amar, gozar... Arte é antes de mais nada a nossa busca incessante pela felicidade. É Através da Arte que o homem se relaciona, ao mesmo tempo, com o mundo, com Deus, consigo e com o outro.

É através da Arte que buscamos o Belo, já dizia Mário de Andrade. "O Belo é tudo o que desperta um prazer deslumbrado em nós..."

Com estes dois dias de vivência da música orgânica, da música corporal, experimentamos por diversas vezes a sensação da beleza. Aliás, com todo o respeito ao meu camarada Barba, após esta experiência arrisco dizer que o termo "Música Orgânica" começa a ter um sentido meio redundante para mim. Música é orgânica: vem do corpo e da alma. É sentimento em movimento...

"A beleza salvará o mundo", escreveu Dostoievsky. O planeta Vênus foi batizado com este nome em homenagem à Deusa do amor e da beleza dos romanos. Nós artistas vivemos nossa eterna busca pela beleza. Desta forma nos sentimos vivos e felizes. Isto o Barba me relembrou na sua lição número um, antes da oficina começar, olhando para um tímido astro belo e brilhante fazendo companhia à lua cheia, que se anunciava no início de mais uma noite no Rio Grande.

sábado, 11 de setembro de 2010

Dance como uma flor que não pede licença pra nascer


...certa vez perguntaram ao Dalai Lama: O que mais te surpreende na humanidade? Ele respondeu: 

"Os homens... Primeiro perdem a saúde para ganhar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido."

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Música de Brinquedo

Acho que vou ter que acender umas velas no fim do ano pra agradecer aos deuses pelos amigos muitíssimo bem informados que tenho. Pois então... estava eu esta semana na maior dúvida sobre o que postar no Paisagens. Eis que me vem um mail de uma colega falando sobre um novo cd do Pato Fu. Abri o link meio reticente, já que não morro de amores por eles...

Ao abrir o endereço acabei surpreendido pelo novo trabalho da banda, que foi gravado utilizando a sonoridade de brinquedos. Isto mesmo: brinquedos! Sabe aquele tecladinho com som insuportável do seu filho que ele teima em levar pra escolinha nos dias da aula de música? Sim, aquele mesmo... É um dos inúmeros cacarecos lúdicos e sonoros utilizados pela banda para o caráter etético do seu novo trabalho, o "Música de Brinquedo", que consiste em uma série de releituras de clássicos do Pop nacional e internacional, filtrados com a sonoridade dos objetos que fazem a cabeça da criançada.

Dêem uma conferidinha no arranjo de "Live And Let Die" de Paul & Linda McCartney.




Sim caro amigo do "Paisagens", é a você que é meio cético a este tipo de invencionices e que ficou surpreso com a - excelente - sonoridade tirada pelo grupo que dedico esta postagem.
Confesso que achei insatisfatório o trabalho que a Fernanda Takai gravou com as canções que a Nara Leão interpretava, mas com este trabalho mais recente acredito que ela e sua trupe acabaram de se redimir...

Mas uma coisa a gente tem que admitir. Desde os primórdios da banda, a experimentação sonora e tecnológica sempre foi prática corrente desta banda. O tiro no alvo do trabalho foram os backings cantados pela filharada do pessoal, que compõe alguns arranjos.

Eu já ouvi o disco todo e posso dar destaque às canções "Sonífera Ilha" (Titãs), "Love Me Tender" (Elvis Presley / Vera Matson) e "Todos estão surdos" (Roberto e Erasmo Carlos).

Fica a dica da semana pra todos então! Abaixo uma parte do making off da banda e o link do site, onde estão disponíveis mais vídeos e um texto que fala sobre o processo de criação do disco, escrito pelo John Ulhoa:, músico, papai e brinquedista de plantão do Pato Fu.




www.patofu.com.br